Pessoal:
Seguem continuidade de exemplo de discussão de tema e roteiro para o artigo individual e trabalhos em grupo que vocês precisam fazer. No post anterior, mostrei fontes (dois documentários) que tratam do tema da miséria e dos lixões, contando a história de pessoas que vivem dele. A exemplo do que fizemos com Peões e Entreatos, de Eduardo Coutinho e João Moreira Salles, analisamos o contexto histórico de cada produção documental, seus discursos, suas contradições, suas linguagens e estratégias de exposição e crítica de conflitos sociais.
Agora, apresento mais uma fonte (uma reportagem) que fala das políticas públicas que estão sendo desenvolvidas e discutidas para tratar do conflito, como elas se propõem a resolver alguns problemas e como acabam criando outros. Proponho as seguintes questões para reflexão neste exemplo, e que podem ajudá-los nos trabalhos de vocês:
– quais conflitos e que contextos?
– que sujeitos e grupos envolvidos neles e com que visões distintas sobre eles, seus processos de identificação e subjetivação individuais e coletivos?
– que categorias de análise e como estas se cruzam, se sobrepõem, se misturam, complexificando os conflitos e (des)estruturando poderes e micropoderes em múltiplas posições (classe, gênero, geração, etnia, educação, religião, família, espaço, meio ambiente etc.)?
– quais são as políticas públicas conquistadas, propostas, desenvolvidas, rejeitadas, criticadas, elogiadas?
– como elas pretendem funcionar e como funcionam na opinião dos sujeitos e grupos envolvidos nos conflitos?
– como poderes, micropoderes, processos de identificação e subjetivação se (re)configuram e quais as transformações (melhores/piores/indiferentes e do ponto de vista de quem) ocorrem e por que?
– que novos conflitos emergem e como são percebidos de formas diferenciadas, ambíguas, complexas pelos (“mesmos outros”) sujeitos e grupos?
– e que considerações (nada conclusivas!) podem ser feitas sobre esses processos…?
Bom Trabalho!
Segue a notícia sobre o tema que exemplifiquei:
14/03/2011 13h18 – Atualizado em 14/03/2011 14h45
Seropédica vai receber parte de lixo que iria para Gramacho, no RJ
Secretário do Ambiente se reúne para traçar plano estratégico.
Objetivo é desafogar lixão de Gramacho, na Baixada Fluminense.
Parte do lixo carioca deixará de ir, já no fim de março, para o aterro sanitário de Gramacho, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, e será levado para a nova central de tratamento de lixo em Seropédica, também na Baixada.
“Finalmente o novo aterro de Seropédica começa a funcionar esse fim de mês, recebendo material”, disse o secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, que participa de uma reunião nesta segunda-feira (14), com autoridades e líderes comunitários.
O objetivo, segundo Minc, é ‘desafogar’ o lixão de Gramacho – o maior aterro sanitário a céu aberto da América Latina – para que ele seja desativado em 2012. O local está com a capacidade esgotada e há o risco de o chorume gerado pelo acúmulo de lixo e absorvido pelo solo contaminar a Baía de Guanabara.
Recuperação
A comissão discute um plano estratégico para a recuperação socioambiental e de infraestrutura da região, além de uma proposta de trabalho para os cerca de 2.500 catadores. Em funcionamento há 30 anos, o lixão de Gramacho recebe mais de 8 mil toneladas de resíduos por dia.
A licença para a construção do aterro em Seropédica foi concedida pela prefeitura do município em agosto de 2010. A proposta é que a central receba todo o lixo produzido no município do Rio, de Seropédica e Itaguaí.
Preocupação é gerar emprego para catadores
A grande preocupação de autoridades e cooperativas presentes na reunião é achar uma solução para gerar emprego e renda para os 2.500 catadores de lixo de Gramacho. Contando com a família de cada um deles, somam-se cerca de 7 mil pessoas atingidas pela desativação do aterro.
A Secretaria municipal de Trabalho de Caxias e o Ministério do Trabalho vão oferecer três mil vagas de emprego. Entretanto, elas são restritas a pessoas com segundo grau completo. “Isso só pega de 10% a 30% dos catadores de Gramacho”, afirmou Minc.
Entre os catadores presentes na reunião estava Sebastião Carlos dos Santos, o Tião, personagem principal do documentário “Lixo Extraordinário”. “A maior reivindicação hoje é a geração de trabalho e renda. Como essas pessoas vão ficar após esse fechamento, quais serão as alternativas?”, questionou ele.
Tião criticou alguns programas apresentados, como o do Pro Jovem, que sugere capacitar apenas jovens de 18 a 29 anos. “Eu tenho 32 e ficaria de fora”, ressaltou ele.
De acordo com levantamento do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), apenas um terço dos 2.500 catadores participam do Bolsa Família. Entretanto, outro um terço desses trabalhadores (cerca de 800 pessoas), afirma o instituto, tem condição de participar do programa do governo federal, mas não está incluída por não possuir documentação. “Um mutirão está sendo feito com as secretarias de Trabalho e Ação Social, para solucionar isso”, afirmou o secretário.
1% do lixo do Rio passa por coleta seletiva, diz Minc
Uma outra oportunidade para esses catadores poderá vir através de uma ajuda do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que tem como proposta disponibilizar uma verba não reembolsável para construir galpões e adquirir caminhões. Com isso, os catadores poderiam trabalhar na coleta seletiva.
Segundo Minc, atualmente apenas 1% do lixo do Rio passa por coleta seletiva. Ele afirmou que a meta é aumentar para 10% até 2014. “É um bom momento para o Rio avançar na coleta seletiva e empregar esses catadores de forma digna, esse é o nosso desafio e essa também é uma oportunidade”, resumiu ele.
De acordo com o secretário, uma outra proposta é a verba de R$ 1,5 milhão por ano do Fundo de Valorização de Catadores. Minc ressaltou também a exploração do gás metano no bairro, que é de grande valor comercial. A Caixa Econômica Federal doará R$ 2,8 milhões para equipar e ajudar na coleta seletiva de Caxias.
Documentário premiado
O premiado documentário “Lixo extraordinário”, que concorreu ao Oscar este ano, foi gravado durante dois anos no lixão de Gramacho. O filme, que mostra a trajetória do lixo até se tornar arte e expõe a vida dos catadores, também foi rodado em Londres e em Nova York, onde fica o estúdio do artista plástico Vik Muniz. Seu trabalho apareceu recentemente na abertura da novela “Passione”.